sábado, outubro 22, 2005

Till death do you part

Existem alguns filmes que trazem a marca registrada do seu diretor. Esse é caso de A Noiva Cadáver, do mestre Tim Burton, que nos traz de volta ao ambiente da stop-motion, como em O Estranho Mundo de Jack. Nesta história conhecemos Victor Van Dort, que filho de pais ricos, mas sem nenhuma ascensão social, se vê forçado a casar com a tímida Victoria Everglot, filha de aristocratas falidos que estão dispostos a qualquer coisa para que o seu cofre volte a guardar mais do que teias de aranha. O plano montado pelos pais de ambos os noivos sai dos trilhos quando Victor acaba casando com uma morta, e é puxado para o outro mundo. Um outro aspecto importante é o universo único criado por Burton. Além de seu traço sombrio que o acompanha desde Edward Mãos de Tesoura, todos os personagens são caricatos e cartunescos, mas nem por isso parecem estáticos, todos têm vida própria, tanto que durante o filme inteiro eu não tinha certeza se o filme era CG ou não. Independente da técnica utilizada, o mundo criado para essa história é fantástico e com certeza merece ser visto. Todos os fãs da estética Burtoniana devem comparecer aos cinemas para ver o resultado de dez anos de trabalho, que resultou num ótimo conto de Halloween.

segunda-feira, outubro 17, 2005

Faz de conta

De onde surgem as idéias que, contadas e recontadas, se tornam lendas e fábulas? Existe, lá no fundo, lá na nascente do rio dos contos, uma pedrinha de verdade? Transformar personagens reais em protagonistas de histórias dignas de seus próprios escritos não é novidade no cinema: o Bardo foi um atrapalhado amante em Shakespeare Apaixonado, e J.M. Barrie, autor de Peter Pan, teve sua vida transformada em lirismo no sensível Em busca da Terra do Nunca. Em Irmãos Grimm, o ex- Monty Python Terry Gilliam também se utiliza desse recurso de ficcionalização de personagens reais para dar às fábulas dos "protagonistas" um toque de realidade. Assim, os irmãos Will (Matt Damon) e Jake (Heath Ledger) Grimm são famosos em seu país, a Alemanha ocupada pelos franceses, em pleno século XIX. Além de famosos contadores de histórias, com livros publicados sobre bruxas, magos e fadas, eles se apresentam a pequenas comunidades como "caçadores" de entidades do outro mundo. Enquanto Will se concentra nessa atividade como uma profissão que lhe garante o sustento e a diversão, o retraído Jake se utiliza das descrições e sensações para dar embasamento às novas histórias. Quando esse "trabalho" é posto à prova por um general francês, os irmãos se vêem, pela primeira vez, diante de uma situação real que tem contornos de lenda: o desaparecimento de meninas em uma vila, que pode ou não estar ligado aos acontecimentos de 500 anos antes, em uma torre abandonada no meio da floresta. Com a ajuda de Angelika (Lena Header), eles buscam na floresta as respostas para o enigma, e acabam descobrindo que nem todas as lendas são especulação. O filme ganha corpo com as atuações precisas de Damon, como o arrogante e pragmático Will, e Ledger - contido e introspectido, como pede o papel de Jake. A fotografia da floresta - mágica, ora clara, ora escura - e as cenas da torre, com a rainha (Monica Bellucci), são o ponto alto. A trama não sofre do mal recente dos filmes de ação - as paradas estratégicas para explicações da trama - ganhando ritmo com o desenrolar dos acontecimentos. O porém fica na sensação palpável de que o filme sofreu nas mãos dos produtores ávidos em colocá-lo como mais um produto consumível do verão norte-americano, suavizando a visão sombria e satírica de Gilliam, o que aproximaria Irmãos Grimm do tom Burtoniano que merece, a la A lenda do Cavaleiro Sem Cabeça. Ainda assim, a chance de ver, na telona, uma aventura clássica com seus elementos de ação, suspense, romance e fantasia é presente para qualquer amante do cinema de entretenimento. [Adendo do Frank] Tem um jogo de RPG que nenhum dos meus amigos gosta e eu sempre dizia: "Olha, se você esquecer *completamente* que eles são lobisomens, o jogo é muito legal". E é isso que acontece com Os Irmãos Grimm. Se você ignorar todas aquelas referências que são atiradas em nossa direção, nós obtemos um filme sobre dois irmãos que são forçados a acreditar que todas as enganções que eles faziam para sobreviver são reais, e eles vão ter que lidar com isso. O ambiente do filme está ótimo e eles conseguiram criar um clima de contos de fada dignos do Sr. Burton, como a querida Roxy disse, mas não vai muito além disso. A bem da verdade, grande parte da culpa do filme ser assim vem dos grilhões impostos por Hollywood, que ainda estão ávidos por blockbusters para remediar a redução do cinema como primeira opção de lazer. Para se ter uma idéia, o diretor de fotografia e o produtor escolhidos por Gilliam foram demitidos, e ele prórpio e Tony Grisoni fizeram com que o roteiro não se tornasse apenas mais um filme de terror B, apesar de não receberem nenhum crédito por isso. O suposto roteirista Ehren Krueger é responsável pelas versões americanas de O Chamado e O Chamado 2, que não passam de cópias açucaradas do roteiro japonês, diga-se de passagem. Talvez seja melhor assim, pois as falhas do filme vão para Herr Krueger. Uma outra evidência da falata de liberdade está na seguinte frase de Terry: "Eu não posso dizer nada sobre o fato de que eu não posso dizer nada negativo sobre os Weinsteins[produtores do filme]". Veja a entrevista de Terry Gilliam ao New York Daily News aqui. p.s: Eu realmente perdi o respeito pela Miramax depois dessa. Ainda mais porque eles vetaram fazer um filme de Good Omens com Johnny Depp e Robin Williams. Grrr

domingo, outubro 09, 2005

A maldição do Coelhosomem

Chegou aos cinemas o filme com as aventuras da dupla Wallace e Grommit da Aardman Animation, os criadores de Fuga das Galinhas. Dessa vez, os dois conseguiram um ótimo trabalho como o primeiro controle humanitário de pestes, mesmo que seu alvo principal sejam os coelhos. Essas criaturas fofinhas, ainda mais feitas com massa, podem parecer inocentes à primeira vista, mas são verdadeiros demônios devoradores de vegetais. Assim, os dois são os únicos que se dispõem a ficar no caminho entre as criaturas felpudas e um desastre leguminoso. Ainda mais quando o torneio dos vegetais gigantes se aproxima, e o serviço fornecido pela dupla é imprescindível. Tudo parece estar progredindo, com cada vez mais clientes contratando o seu trabalho, até aparecer uma terrível fera, com uma fome insaciável por todos as hortaliças competidoras do torneio. É interessante notar que, assim como nas animações 3D, que melhoram a cada nova produção, podemos observar uma melhora considerável no cenário, nos objetos, e nos personagens, com direito até a alguns efeitos especiais e uma interação maior entre as pessoas (e cães e coelhos) e o mundo que as cerca. Um filme obrigatório para todos os fãs da dupla inglesa, e para os adoradores da artesanal arte do stopmotion.

sexta-feira, outubro 07, 2005

Um pedaçinho do Céu

Assista aqui os primeiros nove minutos do filme Serenity, de Joss Whedon. Se o filme mantiver o ritmo desses primeiros minutos, será uma das melhores histórias do ano.

terça-feira, outubro 04, 2005

Golfinhos e Lontras

Essa semana eu li uma entrevista fabulosa entre dois ídolos meus: Neil Gaiman, que fez muito mas do que Sandman, e Joss Whedon, que deu vida à Buffy, entre outros. Nessa conversa, são discutidos todos os assuntos: desde os projetos de cada um, até as infidáveis configurações dos X-Men. Um dos pontos memoráveis, entretanto, é quando Neil Gaiman diz que já ouviu falar que existe uma diferença entre golfinhos e lontras. Os golfinhos, enquanto você os recompensar com peixes, ficarão fazendo o mesmo truque até o fim dos tempos. As lontras, por outro lado, depois que fazem um truque uma vez, não querem fazer a mesma coisa de novo, porque você já viu aquele truque, e eles querem tentar algo melhor, ou diferente. Por isso as lontras são muito mais difíceis de treinar do que os golfinhos. E aí está o problema: os escritores, os bons escritores, são como lontras, e não gostam de ficar repetindo a mesma coisa, eles precisam de novos desafios, precisam tentar truques novos, para que possam continuar evoluindo no caminho que escolheram. Por que então os filmes de Hollywood têm sido tão pífios ultimamente? Porque os executivos só estão preocupados com o lucro e a rentabilidade da indústria, eles querem golfinhos que repitam a mesma fórmula ad infinitum, no mesmo ritmo padronizado, para que eles possam explorar todo o potencial deste mercado, sem se importar com o resultado final obtido neste processo. Tanto isso é verdade, que alguns preferiram remover seus nomes dos créditos do que se ver associados a deturpações de suas obras. Alguns executivos ainda insistem que o problema é o DVD, a pirataria, ou até o preço do combustível ["E falta pouco pra eles culparem a Al-Qaeda por isso também" - Roxy]. Mas os donos dos cinemas, que observam a situação de perto, podem explicar muito mais resumidamente: "São os filmes, estúpido", disse o presidente da Associação Nacional de Donos de Cinema, "É o que nós temos dito o tempo todo", como pode ser visto neste artigo. E parece que alguns executivos estão começando a prestar atenção. Eles dizem que reconhecem que o problema tem a ver com os filmes em si. Vamos ver se eles irão concretizar essas constatações.

domingo, outubro 02, 2005

Quem tem medo do Sam Raimi?

Toda vez que eu e meus amigos não temos o que fazer, vamos até a locadora com a missão de alugar o pior filme de terror possível. Para se ter uma idéia do que eu estou falando, esta é uma das obras primas que já assistimos: Viy - O espírito do mal. Foi com esse espírito que fomos assistir ao último filme do Sam Raimi, Boogeyman, que como não poderia deixar de ser, teve a péssima tradução de O Pesadelo. Para a minha grata surpresa, o filme não só não é uma bomba, como é muito bom. Sério. Os atores são bons, principalmente o protagonista, a fotografia é muito boa, criando um ambiente assustador e surpriendente sem ter que recorrer ao blood and gore tão comuns nos filmes do gênero. Quem precisa de mortos-vivos com facões ou homens com certas camisas listradas que esqueceram de fazer as unhas? Aqui você é tomado de surpresa por uma maçaneta enferrujada, por um roupão que sem querer ficou na posição errada, ou aquelas imagens que você só consegue ver com o canto do olho, mas sabe que estão lá. Este filme restabeleceu a minha esperança de que podem existir filmes de terror bons, e fez com que o Senhor Raimi consolidasse um lugar de respeito no meu ranking de pessoas para seguir a carreira com interesse, mesmo que ele só tenha trabalhado como produtor neste filme. Quem sabe, num futuro não tão longínquo, até as comédias adolescentes tenham um roteiro interessante.