segunda-feira, outubro 17, 2005

Faz de conta

De onde surgem as idéias que, contadas e recontadas, se tornam lendas e fábulas? Existe, lá no fundo, lá na nascente do rio dos contos, uma pedrinha de verdade? Transformar personagens reais em protagonistas de histórias dignas de seus próprios escritos não é novidade no cinema: o Bardo foi um atrapalhado amante em Shakespeare Apaixonado, e J.M. Barrie, autor de Peter Pan, teve sua vida transformada em lirismo no sensível Em busca da Terra do Nunca. Em Irmãos Grimm, o ex- Monty Python Terry Gilliam também se utiliza desse recurso de ficcionalização de personagens reais para dar às fábulas dos "protagonistas" um toque de realidade. Assim, os irmãos Will (Matt Damon) e Jake (Heath Ledger) Grimm são famosos em seu país, a Alemanha ocupada pelos franceses, em pleno século XIX. Além de famosos contadores de histórias, com livros publicados sobre bruxas, magos e fadas, eles se apresentam a pequenas comunidades como "caçadores" de entidades do outro mundo. Enquanto Will se concentra nessa atividade como uma profissão que lhe garante o sustento e a diversão, o retraído Jake se utiliza das descrições e sensações para dar embasamento às novas histórias. Quando esse "trabalho" é posto à prova por um general francês, os irmãos se vêem, pela primeira vez, diante de uma situação real que tem contornos de lenda: o desaparecimento de meninas em uma vila, que pode ou não estar ligado aos acontecimentos de 500 anos antes, em uma torre abandonada no meio da floresta. Com a ajuda de Angelika (Lena Header), eles buscam na floresta as respostas para o enigma, e acabam descobrindo que nem todas as lendas são especulação. O filme ganha corpo com as atuações precisas de Damon, como o arrogante e pragmático Will, e Ledger - contido e introspectido, como pede o papel de Jake. A fotografia da floresta - mágica, ora clara, ora escura - e as cenas da torre, com a rainha (Monica Bellucci), são o ponto alto. A trama não sofre do mal recente dos filmes de ação - as paradas estratégicas para explicações da trama - ganhando ritmo com o desenrolar dos acontecimentos. O porém fica na sensação palpável de que o filme sofreu nas mãos dos produtores ávidos em colocá-lo como mais um produto consumível do verão norte-americano, suavizando a visão sombria e satírica de Gilliam, o que aproximaria Irmãos Grimm do tom Burtoniano que merece, a la A lenda do Cavaleiro Sem Cabeça. Ainda assim, a chance de ver, na telona, uma aventura clássica com seus elementos de ação, suspense, romance e fantasia é presente para qualquer amante do cinema de entretenimento. [Adendo do Frank] Tem um jogo de RPG que nenhum dos meus amigos gosta e eu sempre dizia: "Olha, se você esquecer *completamente* que eles são lobisomens, o jogo é muito legal". E é isso que acontece com Os Irmãos Grimm. Se você ignorar todas aquelas referências que são atiradas em nossa direção, nós obtemos um filme sobre dois irmãos que são forçados a acreditar que todas as enganções que eles faziam para sobreviver são reais, e eles vão ter que lidar com isso. O ambiente do filme está ótimo e eles conseguiram criar um clima de contos de fada dignos do Sr. Burton, como a querida Roxy disse, mas não vai muito além disso. A bem da verdade, grande parte da culpa do filme ser assim vem dos grilhões impostos por Hollywood, que ainda estão ávidos por blockbusters para remediar a redução do cinema como primeira opção de lazer. Para se ter uma idéia, o diretor de fotografia e o produtor escolhidos por Gilliam foram demitidos, e ele prórpio e Tony Grisoni fizeram com que o roteiro não se tornasse apenas mais um filme de terror B, apesar de não receberem nenhum crédito por isso. O suposto roteirista Ehren Krueger é responsável pelas versões americanas de O Chamado e O Chamado 2, que não passam de cópias açucaradas do roteiro japonês, diga-se de passagem. Talvez seja melhor assim, pois as falhas do filme vão para Herr Krueger. Uma outra evidência da falata de liberdade está na seguinte frase de Terry: "Eu não posso dizer nada sobre o fato de que eu não posso dizer nada negativo sobre os Weinsteins[produtores do filme]". Veja a entrevista de Terry Gilliam ao New York Daily News aqui. p.s: Eu realmente perdi o respeito pela Miramax depois dessa. Ainda mais porque eles vetaram fazer um filme de Good Omens com Johnny Depp e Robin Williams. Grrr

1 Comments:

At 10/24/2005 08:20:00 PM, Anonymous Anônimo said...

chico pq vc não vai se fuder!!!
porra vc conta o filme inteiro!! terei de ler sempre o0 que vcs postam no mes passado pra não ter surpresas!!
mas blz!!
Ãss. klaus

 

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