Golfinhos e Lontras
Essa semana eu li uma entrevista fabulosa entre dois ídolos meus: Neil Gaiman, que fez muito mas do que Sandman, e Joss Whedon, que deu vida à Buffy, entre outros. Nessa conversa, são discutidos todos os assuntos: desde os projetos de cada um, até as infidáveis configurações dos X-Men. Um dos pontos memoráveis, entretanto, é quando Neil Gaiman diz que já ouviu falar que existe uma diferença entre golfinhos e lontras. Os golfinhos, enquanto você os recompensar com peixes, ficarão fazendo o mesmo truque até o fim dos tempos. As lontras, por outro lado, depois que fazem um truque uma vez, não querem fazer a mesma coisa de novo, porque você já viu aquele truque, e eles querem tentar algo melhor, ou diferente. Por isso as lontras são muito mais difíceis de treinar do que os golfinhos. E aí está o problema: os escritores, os bons escritores, são como lontras, e não gostam de ficar repetindo a mesma coisa, eles precisam de novos desafios, precisam tentar truques novos, para que possam continuar evoluindo no caminho que escolheram. Por que então os filmes de Hollywood têm sido tão pífios ultimamente? Porque os executivos só estão preocupados com o lucro e a rentabilidade da indústria, eles querem golfinhos que repitam a mesma fórmula ad infinitum, no mesmo ritmo padronizado, para que eles possam explorar todo o potencial deste mercado, sem se importar com o resultado final obtido neste processo. Tanto isso é verdade, que alguns preferiram remover seus nomes dos créditos do que se ver associados a deturpações de suas obras. Alguns executivos ainda insistem que o problema é o DVD, a pirataria, ou até o preço do combustível ["E falta pouco pra eles culparem a Al-Qaeda por isso também" - Roxy]. Mas os donos dos cinemas, que observam a situação de perto, podem explicar muito mais resumidamente: "São os filmes, estúpido", disse o presidente da Associação Nacional de Donos de Cinema, "É o que nós temos dito o tempo todo", como pode ser visto neste artigo. E parece que alguns executivos estão começando a prestar atenção. Eles dizem que reconhecem que o problema tem a ver com os filmes em si. Vamos ver se eles irão concretizar essas constatações.
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