quarta-feira, novembro 16, 2005

Even the losers get lucky sometimes

As pessoas que mais admiramos são as que mais podem nos decepcionar. Diretores de cinema, em especial, têm essa capacidade - apesar de algumas ótimas piadas, eu ainda não perdoei Kevin Smith por Jay & Silent Bob Strike Back. Com Cameron Crowe, eu já passei do processo de perdão. Porque Quase Famosos tinha uma trilha sonora grudenta o bastante pra eu me concentrar mais em Tiny Dancer do que na lembrança de que o nome do cineasta aparecia nos créditos de Vanilla Sky. E pelo Patrick Fugit. O Patrick Fugit compensa a imagem do Tom Cruise de máscara. Mas a verdade é que, por já ter me decepcionado uma vez, eu fico apreensiva a cada novo projeto do sr. Crowe. E quando Orlando Bloom foi anunciado como protagonista de Elizabethtown, eu temi pelo pior. Mas logo no começo dos 133 minutos de Tudo acontece em Elizabethtown, o meu único pensamento era "Morra, Cameron Crowe". Tudo se encaixa, tudo faz sentido. Minha fé no trabalho dele se reestabeleceu. Elizabethtown, como todo filme de Crowe, é sobre o fracasso, e os caminhos e possibilidades que isso nos traz. Como todo filme de Crowe, é nos seus piores momentos que um homem é capaz de perceber em sua totalidade as imensas qualidades que possui, e a infinita capacidade que o mundo em vivemos permite para que todos se reinventem. E o caminho que se abre para o designer Drew (Bloom) vem com guia - a comissária de bordo Claire (Kirsten Dunst) e trilha sonora que vai de Lynard Skynard a Ryan Adams. No seu processo de auto-comiseração, aceitação e redenção, Drew precisa lidar com a perda não só de sua vida presente - o emprego - como uma vida passada que ele não esperava que lhe escapasse. A morte do pai dá um novo sentido e propósito à sua existência, pelo menos até que o seu fracasso pessoal se torne público e, portanto, ele perca o status que adquiriu junto aos familiares. Mas é essa família - seja o núcleo mais próximo, formado pela mãe (Susan Sarandon) e a irmã (Judy Greer) ou os excêntricos parentes do pai, moradores da cidade que dá título ao filme - que Drew recomeça sua caminhada. A amizade com Claire serve ao mesmo tempo como guia e salva-vidas, e o resultados é que todas as vidas - de sua mãe, de seu primo, de seus tios - de certa forma se renovam a partir dos preparativos para o adeus final a seu pai. Nesse processo, a sensação de perda se esvai em meio a tantas outras, e as possibilidades que surgem se tornam mais atraentes, à medida em que a vida se torna mais importante que o fracasso e os erros, antes empecilhos, se tornam um impulso para novas experiências. E é nessa ode às pequenas coisas que nos tornam vivos, que nos lembram que somos humanos, que se constrói a verdadeira força do cinema de Cameron Crowe. Com seus filmes, ele é capaz de transformar uma dança desajeitada em uma mensagem de perseverança que nem o mais heróico dos filmes de hoje é capaz de produzir.
Às vezes, até os perdedores têm sorte...

terça-feira, novembro 01, 2005

Armas não matam

Eu devo confessar que fui assistir a O Senhor das Armas com a idéia de que seria um filme de ação legalzinho com o Nicholas Cage, que é um ator que eu sempre gostei desde Despedida em Las Vegas, felizmente fui surpreendido. O filme conta a história do traficante de armas Yuri Orlov, e sua carreira até ter alcance internacional. No início, o protagonista diz que não vai mentir para enobrecer o que faz - e essa frase reflete muito a própria natureza do filme, que carrega em seu discurso um ponto de vista incomum em relação à maioria dos filmes norte-americanos. Ele mostra claramente como grande parte das guerras hoje em dia é movidas pelo comércio, e pela ambição dos traficantes de ampliarem o seu mercado. Admitidamente, ainda é um filme de ação e tem suas partes romantizadas, já que a vida do personagem é baseada na vida de 5 traficantes reais. Ainda assim, vale a pena assistir e ouvir os argumentos expostos, com particular interesse para os diálogos entre Cage e Ethan Hawke e entre Cage e Jared Leto, que faz seu irmão.