segunda-feira, maio 23, 2005

The end is the beginning is the end

Esse post terá duas partes: uma falará sobre o "espetáculo" que foi a estréia. Na minha opinião, o último grande evento de cultura pop da década. Na segunda parte, eu falo do filme em si. Estréia do último episódio de Star Wars. Eu poderia esperar o burburinho passar e assistir tranqüilamente lá pela segunda semana. Mas eu lembrei das tantas filas que enfrentei nos últimos anos, fosse para Star Wars, fosse para O Senhor dos Anéis, Matrix, Harry Potter... até a fila que eu iniciei pra Homem-Aranha 2! Não consigo negar meu DNA pop, eu precisava ver à meia-noite e um. O que se faz nessas horas? Se apela para amigos mais fanáticos. Claro que, se eu estivesse em Recife, eu teria visto na sessão VIP, cortesia do Bruninho. Mas aqui eu sou totalmente não-VIP, me restou apelar pro Rafa (que, aliás, ficou meu amigo por causa de Star Wars). O ingresso foi comprado na sexta-feira 13. Apesar disso, nada indicava azar. Falei cedo demais. O combinado era nos encontrarmos na frente do cinema, às 20h do dia 19. Uma hora antes, resolvi olhar meus e-mails e, pro meu desespero, peguei vírus. Durante uma hora eu lutei contra o pânico e o bichinho, que foi vencido (momentaneamente) pela minha esperteza em desligar o cabo do modem. Chovia muito em Porto Alegre. Peguei um táxi na Cristóvão e fui. Bourbon Ipiranga. No caminho para as escadas rolantes, flashes da estréia de A Sociedade do Anel. As filas que davam voltas pelo estacionamento. Estranhei quando vi poucas pessoas. Mas isso foi até dar a volta na bombonière. Mais de 100 pessoas, pelo menos. Encontrei os guris: Rafa, Mik, Gabriel, Ariel e a dona Irene. Nosso lugar não era exatamente no início, mas não indicava que iríamos pegar lugares ruins (o que acabou acontecendo, mesmo com todo o controle contra furos). O filme seria exibido em três salas, então foram formadas três filas distintas. Um grande número de adolescentes, pós-adolescentes e über-pós-adolescentes empunhando "sabres de luz" - que variavam das coisinhas high-tech a cabos de vassoura. Torci pra rolar um torneio de sabres inter-filas, mas não rolou... O controle da fila consistia em carimbar o ingresso. Mais tarde, dada a confusão, eles ampliaram para carimbos no pulso. Me sentia num daqueles clubes noturnos. Aliás, aquela fila era praticamente um evento social. Muitas caras conhecidas (tipo o Marchetti, que me ajudou a matar tempo falando sobre seriados). Muitos toscos fantasiados (ou, como a Erika disse, com uma capa mal-feita que a avó costurou um dia antes). Uns dois Darth Vader (um deles, com uma roupa de qualidade, se achou e ficou posando pra fotos com as pessoas). Um Obi-Wan. Pra minha sorte, nenhum Jar Jar Binks. 23h30min. As filas começam a andar. Consegui um lugar na metade da sala porque não quis sentar com os meus amigos e consegui uma poltrona solitária (àquela altura, nosso grupo já tinha as adições do Max, do Valmor e da Cris, do Pedro e da Fernanda, do Renan e da Paula, da Ivana, do Adriano e de mais uma menina que eu não sei quem é). Antes do filme... Rolaram 4 trailers. Analisá-los-ei: As Crônicas de Nárnia: eu tinha visto o primeiro trailer no lançamento na TV aberta (até me impressionei que a Disney esteja investindo a esse ponto), mas a versão full que rolou no cinema é ainda mais espetacular. No começo, é absolutamente um filme de criança. A sensação geral no cinema é "por que eles estão mostrando isso?". Mas quando a menininha abre a porta do armário, e o outro lado é um mundo coberto de neve, o trailer ganha um ritmo mais ágil, de aventura, coroado com o surgimento do Leão. As imagens da Tilda Swinton lembram um pouco o papel dela em Constantine, mas acho que foi só impressão. Fantástico. Sr. e Sra. Smith: levantou a galera, por causa da Angelina Jolie. As aparições do Brad Pitt foram seguidas de vaias do público predominantemente masculino da sala, o que pode significar que todos eles eram pró-Jennifer Aniston ou uma grande parte da macharada de Porto Alegre tem inveja do Brad Pitt - insegurança é uma merda, não meninos? Batman Begins: me decepcionou um pouco, achei meio simplezinho demais pra um filme desse porte. Apesar de mostrar o Bruce Wayne (e eu acho que o Christian Bale tem o porte aristocrático que o personagem exige) e o Alfred (Michael Caine rulez!), eu ando com uma aversão cada vez maior à Katie Holmes dado os últimos acontecimentos da mídia... A simples aparição dela me deixou meio enjoada. E o Liam Neeson tava ali também, então ficou uma coisa meio "Batman treinando com o Qin-Gon Jin". Sei lá. Não me agradou. Guerra dos Mundos: parecia o de O dia depois de amanhã, além de ter vários closes da Dakota Fanning, o que garantiu que eu ficasse com medo (EU TENHO MEDO DA DAKOTA FANNING!). Ainda antes do filme... MORRAM PESSOAS SEM NOÇÃO QUE TÊM CÂMERAS DIGITAIS!!!! Porque vááááááários abobados começaram a tirar fotos da tela DEPOIS que o filme já tinha começado, e a luz do flash e da mira refletia direto na tela (um dos imbecis, inclusive, era o cara que estava sentado ao meu lado, e que estava com a namorada idiota que provavelmente não viu nenhum dos outros filme e passava o tempo todo perguntando "quem é esse?", "o que aconteceu?" e "a barriga dela cresceu!" - e ele explicava! O que prova que pessoas ignorantes não deveriam ter permissão de ver esse filme, especialmente as que não têm noção de PASSAGEM DE TEMPO IMPLÍCITA!) (*insira o tema de Star Wars aqui*) E no fim, as palavras do Mestre "eu-sou-mais-fodão-do-que-vocês-pensavam" Yoda no Episódio I se tornaram realidade:

"Fear leads to anger. Anger leads to hate. Hate leads to suffering."
Toda a trajetória do Anakin é marcada por esses sentimentos: o medo diante da solidão depois da morte da mãe. O medo diante da impossibilidade de concretizar o seu amor pela Padmé. O medo de nunca ser considerado um Mestre Jedi. O medo de perder sua família. O medo de que a República que ele conhece e defende deixe de existir. A cena inicial, uma batalha, pega carona no ritmo aventuresco do Episódio II, que lidou mais com as batalhas iniciadas com o Ataque dos Clones do que com a politicagem do Episódio I. Além da dinâmica perfeita entre Obi-Wan e Anakin, é possível ver, nessa primeira seqüência, o papel fundamental que R2D2 exerce na trama - além de co-piloto, ele é testemunha dos momentos-chave da trajetória do Anakin, e a sua "incapacidade lingüística" o torna irrelevante à primeira vista, mas essencial para os eventos futuros. O clima da seqüência - o resgate do Chanceler, que está em poder do Conde Dookan e dos Dróides - é permeado por esquetes cômicos envolvendo R2D2, devolvendo a sensação de aventura espacial que a saga original emitia. A luta entre Anakin e Dookan, embora não no mesmo nível do Episódio II, tem um final amargo, especialmente porque antecipa a transformação. Como era de se esperar de um filme que pretende amarrar pontas soltas (e, só pra me adiantar, não consegue), a partir daí uma série de pequenas crises vão se acumulando: na volta da missão de resgate, Padmé conta a Anakin que está grávida. Apesar dos sonhos premonitórios em que vê a mulher morrendo no parto, Anakin ainda não confia em ninguém para dividir esse segredo. Enquanto isso, o Chanceler o nomeia representante no Conselho Jedi - o que é aceito - com o título de Mestre - o que não é aceito. Isso atinge diretamente os medos de Anakin. É a partir desse medo que as inseguranças dele se contróem, influenciando as decisões que ele toma - decisões essas que ele sempre julga serem para o melhor, independente das conseqüências. É inegável que boa parte da culpa vem do próprio Conselho Jedi, que tem uma espécia de relação amor e ódio com o rapaz: se, por um lado, o Anakin é o Chosen One, por outro ele não inspira confiança suficiente nos membros do Conselho - em especial Mace Windu para que seu status como Mestre seja oficializado. A insegurança faz com que Anakin não aceite os elogios de Obi-Wan - ou pelo menos não os considere com a mesma atenção que ele dá às negativas do Conselho - e o medo se transforma em raiva, o que abre as portas para a influência do Chanceler Palpatine. A rejeição ao seu ranqueamento como Mestre faz com que Anakin comece a questionar as ações do Conselho - suspeita que Palpatine mais do que alegremente faz questão de alimentar, ao mesmo tempo em que insinua a Anakin que existe uma forma de salvar Padmé e a criança. Palpatine consegue manipular o Senado e os seus aliados para dispersar os Jedi - Obi-Wan parte em busca do General Grievous e Yoda vai ao planeta dos Wookies (Chewbacca!). Quando ele consegue convencer Anakin de uma suposta traição do Conselho, Palpatine se revela a Anakin que, mesmo sabendo que o poder do Lado Negro é a única coisa que poderia salvar sua família, reporta imediatamente a Mace Windu. O arrependimento é imediato. A confrontação entre Windu, Anakin e Palpatine remete diretamente à morte do Conde Dookan, e pode-se perceber claramente que, a partir desse momento, Anakin não ouvirá mais a nenhum Jedi - a raiva se transformou em ódio. Ele questiona a decisão de Windu de matar o Chanceler, mas ele nunca questionou as ordens do próprio Palpatine de eliminar imediatamente o Conde Dookan. O extermínio dos Jedi pelas tropas do Senado é uma seqüência ao mesmo tempo apavorante e impressionante. As ordens não são questionadas, apenas executadas. Obi-Wan, que sempre se colocou, nas suas próprias palavras, mais no papel de irmão do que pai, precisa que ver as atrocidades cometidas por seu aprendiz para aceitar que a influência do Lado Negro foi mais forte. Anakin é forte, e Obi-Wan sabe disso, e a decepção que ele sofre parte mais da suas falha de julgamento - influenciado pela afeição que ele tem pelo Anakin - do que pelo genocídio.

A Padmé me decepcionou um pouco nesse filme. O papel político dela no Episódio I foi substituído por uma determinação e ação no Episódio II, o que lembrava bastante a Leia e fazia essa "ligação" entre as trilogias. Mas nesse filme, ela adquire um papel mais passivo, não só por causa da gravidez, mas pela submissão dela ao Anakin. Por mais que o amor deles seja forte, demora para que ela perceba a ligação dele com Palpatine, e ainda assim ela não acredita na palavras de Obi-Wan. A tentativa dela de evocar o elo emocional com Anakin para tirá-lo daquela situação não faz efeito, porque ele só sente ódio e ambição (mais sobre isso depois). Tanto que o mal-entendido de ver Obi-Wan saindo da nave de Padmé faz com que ele se volte com a mulher - a mulher que, até aquele momento, ele tentava salvar.

Embora a ambição megalomaníaca que o Anakin apresenta quando tenta convencer Padmé a governar a República com ele tenha ecos na trilogia anterior, me pareceu fora de contexto. Até aquele momento, não havia nada no comportamento dele que indicasse essa inclinação, porque o Anakin sempre me pareceu um general, um capanga faz-tudo que entrega o poder pra alguém no final. Era o que eu achava que ele estava fazendo pelo Palpatine (e o que ele eventualmente acaba fazendo). Faltou um pouco de contextualização desse traço dele. A justaposição do duelo entre Anakin e Obi-Wan e Palpatine e Yoda foi interessante porque eram duas batalhas sem vencedor. Apesar de ferido, Anakin sobrevive. Apesar de se considerar derrotado, Yoda sobrevive. Era impossível haver um vencedor porque, naquele momento, a Força estava em equilíbrio: dois Jedi e dois Sith. O que torna a situação ainda mais desesperadora pra quem sabe o que acontece depois: o ódio se transformou em sofrimento.

O final... depois de duas lutas empolgantes, o filme mergulha novamente no picotamente típico do Lucas, com o parto dos gêmeos (que até então ninguém sabia que eram dois! Cadê a ultra tecnologia?), o surgimento do Darth Vader as we know it e o exílio de Yoda e Obi-Wan. Nesse ponto, o George Lucas perdeu a chance de manter uma coerência temporal: se, ao invés de encerrar com a cena do pôr-do-sol em Tattooine, a última cena fosse o Imperador e Darth Vader observando a construção da Estrela da Morte, o filme seria perfeito.

Mesmo assim, apesar dos pesares, esse *É* o melhor filme da nova trilogia. É o que chega mais perto do ritmo e da qualidade da trilogia original, mas não é O Império Contra-Ataca... Maldito Lucas, quando eu estou pronta a odiá-lo, ele me faz ajoelhar diante do altar novamente.

(*insira a Marcha Imperial*)