Considerações sobre o nada
Eu tenho que admitir que invejo imensamente a prosa do Nick Hornby. Ele não é o escritor mais formalmente criativo que eu já li, mas ele escreve com tanta pixão que é impossível não se identificar com (longas) partes do que ele descreve. E, mesmo quando se fala em 31 Canções, um livro sobre músicas pop mais ou menos conhecidas, a maior parte das referências pode passar batida, as historinhas podem parecer idiotas, mas tem sempre aquela one-liner que simplesmente te ganha. Nick Hornby é um cara que escreve sobre obsessões, sejam as dele sejam as de seus personagens. E, vamos admitir, todos nós somos obsessivos até um certo ponto, e a nossa cegueira em relação a esse objetos de desejo por vezes nos levam a confrontar o óbvio. Acho que isso explica porque tanta gente não gostou de Febre de Bola - o problema não é não gostar de futebol, ou se identificar com aquele cara patético que documentou todos os momentos passados dentro do estádio do Arsenal - mas que ninguém acha que a sua obsessão é uma obsessão, e por isso a obsessão dos outros parece tola, fútil, idiota. O formato de 31 canções - ensaios sobre cada uma das músicas que, por vezes, acaba falando sobre tudo menos as canções - é interessante e se apóia nessa prosa confessional de Hornby de maneira cativante rescalando, em certos momentos, para metalinguagem: "Mas qual é o tema apropriado para uma canção? Canções diferem de livrosde muitas maneiras, mas tanto compositores quanto romancistas estão em busca de material que de algum modo signifique algo além da coisa em si, algo que contenha ressonâncias, ironias, textura e complexidade, algo que seja tão temporal quanto atemporal e, no caso da música pop, algo que se sustente ao longo de várias centenas de execuções e, possivelmente, de uns anúncios de margarina." Talvez porque a música seja algo mais universalmente agradável (e a música pop, em especial, seja mais "global"), a maioria se identifica com Alta Fidelidade, uma variação de Febre de Bola que substitui Highbury por uma loja de discos, e as escalações do Seleção Inglesa por listas de 5 Mais. É mais fácil de se identificar porque a maioria de nós é obcecado por música, ou passa grande parte do tempo ouvindo música. É menos constrangedor admitir isso (eu acho).
1 Comments:
eu discordo. eu acho q a maioria das pessoas é "normal", e não tem lá assim tantas obsessões (ou se tem, são as "normais", como obsessão pela limpeza de casa, educação dos filhos, ou trabalho), por isso não entende quem assume suas obsessões "infantis".
quer dizer, pensando bem, eu meio que concordo, né? ;-)
bjs
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